segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Parabéns Google!



A Google comemora hoje o 12º aniversário! Muitos parabéns!

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Uma poluição subtil e discreta

Um estudo feito por uma equipa de investigadores do Instituto Max Planck, publicado online a 16 de Setembro pela revista Current Biology, revela que a iluminação de rua actua como poluição nocturna, afectando o comportamento de aves canoras, nomeadamente a nível de reprodução. O estudo decorreu durante 7 anos e focou-se numa espécie em particular, o chapim-azul.


O chapim-azul é uma ave canora com um comprimento de 11 a 12 cm e pesando entre 9 e 12 g. É facilmente identificado pela sua plumagem colorida, que o distingue de aves de outras espécies (ver fotografia, Crédito fotográfico: Maximilian Dorsch/wikipedia).


Segundo o artigo, os chapins-azul vivendo na orla da floresta apresentam diferenças de comportamento em relação aos chapins vivendo no interior da floresta (apenas) se a orla se situa ao pé de zonas com iluminação nocturna (em particular iluminação de rua).

Das alterações observadas a que poderá ter consequências mais graves é o facto de os chapins jovem-adultos iniciarem o seu canto matinal mais cedo. Segundo Bart Kempenaers, um dos autores do estudo, os chapins que iniciam o canto mais cedo descansam menos e estão mais expostos aos predadores. E também baralham as escolhas feitas pelos chapins fêmea.

Os chapins-azul fazem os seus ninhos em recantos das árvores (embora também aceitem ninhos feitos pelo Homem). Mas nem sempre os pais das crias são os machos que ajudam na construção do ninho. Se entretanto as fêmeas encontrarem um macho que considerem mais saudável podem acasalar com ele.

Um dos factores que as fêmeas chapim-azul consideram na escolha do futuro pai dos seus filhotes é o canto. O estudo agora apresentado demonstra que em regiões com iluminação nocturna os chapins jovem-adultos que iniciam o canto mais cedo têm uma probabilidade duas vezes maior de acasalar com fêmeas que não são as suas parceiras, porque as fêmeas (incorrectamente) os consideram mais saudáveis.

A equipa de Kempenaers verificou que, para além dos chapins-azul mais três espécies de aves canoras passaram a iniciar o seu canto mais cedo: os chapins-real, os melros e os piscos-de-peito-ruivo (que chegam a iniciar o canto uma hora antes!). Estes investigadores receiam que, ao alterar as “regras” pelas quais as fêmeas se guiam na escolha do melhor progenitor das suas crias, a iluminação nocturna poderá ter consequências importantes a nível da evolução do chapim-azul.

Kempenaers refere que “em comparação com a poluição química e sonora, a poluição luminosa é mais subtil e os seus efeitos talvez não tenham ainda recebido a atenção merecida”.


Figura das outras três aves canoras referidas no estudo: chapim-real (à esquerda), melro (ao centro) e pisco-de-peito-ruivo (à direita). Crédito fotográfico (da esquerda para a direita) Sykora Konadra/wikipedia; Bystrc/wikipedia; Rowland Seymour/BBC



O resumo do artigo da Current Biology encontra-se aqui (inglês).

Nota: As aves canoras não são as únicas cujo comportamento pode ser influenciado pela iluminação nocturna. As aves que migram a noite podem ferir-se gravemente ou até morrer aou baterem contra torres iluminadas e o número de corujas perto de zonas habitadas diminuiu devido à dificuldade em caçar provocada pela poluição luminosa. Mas os falcões peregrinos parecem “safar-se” melhor nas grandes cidades.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Muito ruído no Oceano!...

A consequência negativa mais conhecida da acidificação (diminuição do pH) dos oceanos é a diminuição da quantidade de carbonato de cálcio disponível. Mas existem muitas outras, algumas surpreendentes. Como por exemplo a alteração das características de propagação do som. A acidificação está a aumentar o ruído de fundo dos oceanos!

Á medida que se tornam mais ácidos, os oceanos vão perdendo a capacidade para absorver sons de baixa frequência (abaixo de 10 000 Hz). Estima-se que desde o início da Revolução Industrial até hoje o pH da água do mar desceu (em média) 0,1. Esta descida terá sido responsável por uma perda de 10% da capacidade da água do mar para absorver sons de baixa frequência. Até 2050 a perda poderá ser de 40% (correspondente a uma diminuição de pH de 0,3).
O gráfico da figura seguinte apresenta a variação da absorção de som em função da frequência para diferentes valores de pH da água do mar. Quanto menor o valor de pH menor a capacidade da água do mar para absorver sons de baixa frequência. A capacidade para absorver sons de frequência superior a 20 000 Hz quase não diminui. (Crédito: Hester et all, 2008)

No oceano existem muitas fontes de som. As fontes naturais mais importantes são as ondas geradas pelo vento, a chuva e o movimento dos animais marinhos. As fontes antropogénicas (geradas por actividade humana) mais importantes são os navios e os sonares marítimos

A diminuição da absorção de sons de baixa frequência poderá ter consequências desastrosas para os animais marinhos que, como os golfinhos e as baleias, dependem da ecolocalização para se alimentarem e comunicarem entre si. Com o aumento do ruído de fundo torna-se cada vez mais difícil para estes animais distinguir (filtrar) e interpretar os sons de baixa frequência.

A figura seguinte explica de forma simples o sistema de ecolocalização utilizado pelos golfinhos. O animal emite um som (representado pelas linhas a cheio) sob a forma de cliques de pequena duração em sequência. O som emitido pelo golfinho propaga-se pela água até atingir o alvo, neste caso um peixe (alimento). Quando atinge o peixe parte do som é reflectido (representado pelas linhas a tracejado) de volta para o golfinho.


O sistema de ecolocalização permite ao golfinho determinar não só o tamanho e a forma do peixe como também a distância a que este se encontra e a sua velocidade. Este sistema utiliza sons de baixa frequência porque estes propagam-se na água do mar (ou em qualquer outro meio de propagação) durante mais tempo, e portanto “percorrem” maiores distâncias.

Não se conhece ainda bem o mecanismo responsável pela absorção de sons de baixa frequência nos oceanos. Sabe-se que estão envolvidos alguns solutos, como o sulfato de magnésio, o ácido bórico, o ião carbonato e o ião de cálcio. A temperatura da água do mar também é importante: se, como é esperado, a temperatura média do mar aumentar devido ao efeito de estufa a capacidade para absorver sons de baixa frequência será ainda menor.



Nota (1): Actualmente são conhecidos casos em que o aumento de ruído de fundo provocou a alteração do comportamento de cetáceos (baleias e golfinhos). Estão documentados vários casos destes na sequência de exercícios militares navais em que são utilizados sonares (sistemas que funcionam como radares, de forma semelhante à da ecolocalização dos golfinhos).

Nota (2): A diminuição do pH da água do mar também provoca o aumento da velocidade de propagação do som. Uma diminuição de pH de 0,1 (correspondente à variação mos últimos 200 anos, desde o início da Revolução Industrial) deverá ser responsável por um aumento de 10% da velocidade do som nos mares, segundo investigadores do Montery Bay Aquarium Recharch Institute, ou MBARI. Até 2050 estes investigadores estimam que a velocidade de propagação do som na água do mar possa aumentar até 70%.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

O tamanho faz a diferença!

Segundo a revista Nature o artigo sobre o tamanho do protão publicado a 8 de Julho encontra-se no top 10 dos artigos mais descarregados desse mês. Este artigo apresenta os resultados relativos a um conjunto de experiências que indicam que o protão é cerca de 4% mais pequeno do que se pensava até então.

O protão é uma partícula subatómica, que se encontra no núcleo dos átomos. Até agora pensava-se que o protão tinha um diâmetro de 0,8768 fm. Mas o novo estudo indica que o diâmetro do protão é de apenas 0,8418 fm. E o novo método é cerca de 10 vezes mais preciso.

Para além de protões o núcleo dos átomos também tem neutrões (sem carga). Em torno do núcleo movem-se electrões, que têm carga negativa. Cada átomo tem o mesmo número de protões e de electrões. Os átomos de hidrogénio são os mais simples: possuem apenas um protão e um electrão. A figura seguinte é uma representação simplificada da estrutura de um átomo de hélio.


A determinação do tamanho do protão foi feita recorrendo a uma técnica imaginada à já 40 anos, mas que só agora, através da cooperação de 32 investigadores de três continentes, foi possível tornar realidade. A nova técnica permite o estudo de um tipo especial de hidrogénio, chamado hidrogénio muónico, em que o electrão é substituído por um muão. O muão tem a mesma carga que o electrão, mas é 200 vezes mais “pesado”. É a massa “extra” do muão que permite uma determinação mais precisa do tamanho do protão.

O novo valor do diâmetro do protão coloca algumas questões muito importantes a nível da Física Quântica. Porque o valor de uma das constantes fundamentais da Física, a constante de Rydberg, é calculado com base no tamanho do protão.

A constante de Rydberg é utilizada para calcular as riscas do espectro de emissão de cada elemento químico, funcionando como uma espécie de bilhete de identidade. Os espectros foram utilizados para identificar novos elementos (como foi caso da descoberta do césio e o rubídio) e actualmente são utilizados para identificar os elementos presentes nas estrelas (o hélio foi identificado como novo elemento a partir da análise de um espectro de emissão da luz do Sol). A figura seguinte é o espectro de emissão do hélio. Crédito: Jan Homann/Wikicommons.


A revisão do cálculo das riscas de um espectro esconde um problema bem mais grave para a Física Quântica. A interacção entre as diferentes partículas subatómicas e entre estas e a radiação electromagnética (ou seja a luz) tem sido explicada pela Teoria da Quântica Electrodinâmica, ou QED (do inglês Quantum Electrodynamics).

A revisão do cálculo das riscas de um espectro esconde um problema bem mais grave para a Física Quântica, que estuda as partículas subatómicas tendo por base a Teoria da Quântica Electrodinâmica, ou QED (do inglês Quantum Electrodynamics).

A QED estuda a interacção de partículas subatómicas entre si e com a radiação electromagnética (ou seja a luz). É considerada por muitos a teoria científica mais bem sucedida actualmente, porque fez previsões confirmadas por diferentes experiências práticas e porque permite calcular valores teóricos muito próximos dos valores reais. Esse era, até 8 de Julho, o caso do valor do tamanho do protão. No entanto o novo valor, apresentado no artigo, é muito diferente do valor teórico calculado usando a QED.

Os novos resultados apresentados no artigo da Nature não invalidam obrigatoriamente a QED, mas exigem novos estudos, teóricos e práticos, para determinar o que “poderá estar mal”.




A figura seguinte apresenta parte do aparelho utilizado. Ao centro encontra-se a câmara onde é colocado uma amostra de hidrogénio. Essa amostra é bombardeada por um raio de muões, que passa através de eléctrodos em forma anéis à esquerda da câmara. (Crédito fotográfico: Randolf Pohl / MPI of Quantum Optics.)


Alguns destes muões substituem os electrões dos átomos de hidrogénio. A substituição é detectada por um detector e imediatamente a seguir é disparado um laser com uma “cor” (frequência /comprimento de onda) pré-definida. Os átomos de hidrogénio muónico libertam então uma luz que é medida por um sistema de detecção de Raios X. Todo o processo tem de ser muito, muito rápido, porque os muões têm um tempo de vida de 2,2 milisegundos.

Os resultados obtidos pelo sistema de detecção de Raios X são utilizados para o cálculo do diâmetro do protão. Este sistema foi desenvolvido por uma equipa de 8 investigadores portugueses, das universidades de Aveiro e de Coimbra, coordenados por Joaquim Santos.


P.S.: 1,0 fm = 0, 000 000 000 000 001 m!

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Assim por acaso…

A descoberta do buckminsterfulereno (C60), mais conhecido por futeboleno, foi feita por acaso e é (mais) uma história interessante de cooperação entre cientistas. A existência do futebuleno foi proposta em 1970 pelo japonês Eiji Osawa. Mas só foi descoberto em 1985, por uma equipa de investigadores constituída por Harold Kroto (1939 – ), Robert Curl (1933 – ) e Richard Smalley (1943 – 2005).

Harold Kroto (à esquerda), Richard Smalley (ao centro) e Robert Curl (à direita). Crédito fotográfico: The Nobel Prize Foundation.


Kroto queria estudar a formação de compostos constituídos por longas cadeias de átomos de carbono na atmosfera de estrelas gigantes ricas em carbono, para poder provar que os cianopolinos (moléculas de cadeia longa constituídas por carbono e azoto) se formavam na atmosfera estelar, no interior das estrelas.

Para prosseguir os seus estudos, Kroto tinha de recriar em laboratório as condições do interior de uma estrela, onde toda a matéria se encontra num estado especial chamado plasma. Curl, indicou a Kroto a existência de um aparelho, o laser-supersonic cluster beam apparatus (LSCBA), capaz de vaporizar qualquer material até ao estado de plasma. Quando o plasma arrefece formam-se clusters (conjuntos de átomos ligados entre si) que podem ser constituídos por centenas de átomos. O LSCBA foi desenvolvido por Smalley, com quem Curl trabalhava regularmente.

A Figura seguinte apresenta Smalley e o laser-supersonic cluster beam apparatus.


A 1 de Setembro de 1985 Kroto, Curl e Smalley iniciaram a sua pesquisa na Universidade de Rice em Houston, no estado norte-americano do Texas. O trabalho experimental propriamente dito foi realizado por alunos de pós-graduação James Heath e Sean O’Brien. Consistiu em vaporizar grafite, substância constituída exclusivamente por carbono, utilizando o LSCBA e analisar os clusters obtidos.

Os investigadores verificaram que se formavam dois tipos de clusters, um constituído por 60 átomos de carbono (C60) e outro constituído por 70 átomos de carbono (C70). O mais comum era o C60. Uma análise mais cuidadosa confirmou que o cluster de C60 era muito estável, demasiado para ser uma cadeia (ou conjunto de cadeias) de átomos de carbonos.

Kroto, Curl e Smalley propuseram uma estrutura que explica a estabilidade do C60. Cada átomo de carbono estabelece ligações químicas com três átomos: duas ligações covalentes simples (em que é partilhado um par de electrões) e uma ligação covalente dupla (em que são partilhados dois pares de electrões). O resultado é um poliedro com 12 pentágonos e 20 hexagonos, a que deram o nome de buckminsterfulereno. Esta estrutura é igual à de uma bola de futebol.

A figura seguinte representa uma molécula de futeboleno. As bolas azuis representam átomos de carbono, as linhas vermelhas representam ligações simples e as linhas amarelas ligações duplas. Crédito: Boris Povzner.


O nome dado ao C60, buckminsterfulereno é uma homenagem ao arquitecto Richard Buckminster Fuller (1895-1983). As ideias deste arquitecto para a construção de cúpulas geodésicas serviram de inspiração para a estrutura proposta para o futeboleno.

Em geral o termo buckminsterfulereno não é muito utilizado: o termo mais comum em inglês é “buckyballs” e em Portugal é o futeboleno. Mas a referência a Buckminster Fuller mantém-se no nome dado à classe de substâncias a que o fetuboleno pertence, os fulerenos.

Consciente das características únicas do futeboleno a equipa de Kroto, Curl e Smalley, enviou a 12 de Setembro (8 dias depois da sua descoberta), um pequeno artigo para a revista Nature. O artigo foi publicado a 14 de Novembro de 1985. Em 1996 Kroto, Curl e Smalley receberam o Prémio Nobel da Química pela descoberta do futeboleno.

Fotografia de James Heath e Sean O’Brien, que embora tenham participado na descoberta do futeboleno não foram contemplados com o Premio Nobel. Fonte: Harold Kroto.




Nota: O laser-supersonic cluster beam apparatus, foi desmontado alguns anos depois da descoberta do futeboleno. Segundo Smalley vários componentes do LSCBA foram então vendidos a outros grupos de investigação e a câmara onde foram realizadas as experiências foi vendida para a sucata. Smalley comentou com alguma nostalgia em 1997 “Agora não existem máquinas de raios supersónicos de nenhum tipo no [meu] laboratório. Os tempos mudam.”

O futeboleno foi descoberto há 25 anos!

Sábado passado, 4 de Setembro, a Google comemorou os 25 anos da descoberta do buckminsterfulereno, melhor conhecido em Portugal como “futeboleno” por a molécula ter a forma de uma bola de futebol.


O futeboleno foi pela primeira vez identificado pelos químicos Harold Kroto, Richard Smalley e Robert Curl a 4 de Setembro de 1985 (ver aqui a história da descoberta do futeboleno). A 14 de Novembro de 1985 a revista Nature publicou um pequeno artigo, apresentando oficialmente o futebuleno à comunidade científica. Kroto, Smalley e Curl receberam o Prémio Nobel da Química em 1996 pela descoberta do futeboleno.

Cientistas que descobriram o futeboleno. Harold Kroto (à esquerda), Richard Smalley (ao centro) e Robert Curl (à direita). Crédito fotográfico: The Nobel Prize Foundation.


Cada molécula de futeboleno é constituída por 60 átomos de carbono. Cada átomo estabelece uma ligação química com dois átomos adjacentes, o que leva à formação de um poliedro constituído por 12 pentágonos e 20 hexágonos, tal como uma bola de futebol, em que cada extremidade (vértice) é ocupada por uma átomo de carbono.

Na figura cada bola amarela representa um átomo de carbono e as linhas pretas (arestas) que ligam as bolas representam ligações químicas. Crédito: Paul Kent.


A forma do futeboleno foi proposta logo nos primeiros dias após a sua descoberta. Baseia-se no facto de o futeboleno ser uma molécula muito estável, que exclui a possibilidade de o futebuleno ter a forma de uma cadeia longa, e segue a lei de Euler. Esta proposição matemática refere que qualquer polígono com um número n, par e superior a 22 de vértices pode formar pelo menos um poliedro contendo 12 pentágonos e (n-20/2) hexágonos. Para o futeboleno n = 60, logo (n – 20 / 2) = (60 – 20 / 2) = 20 hexágonos.

O nome buckminsterfulereno é uma homenagem ao arquitecto e engenheiro norte-americano Richard Buckminster Fuller (1895-1983) que desenvolveu e aplicou o conceito de cúpula geodésica, uma estrutura geométrica leve mas resistente que pode suportar várias vezes o seu peso. Segundo o artigo da Nature as ideias de Buckminster Fuller para a construção de cúpulas geodésicas serviram de inspiração para a estrutura proposta para o futeboleno.

A figura seguinte apresenta o pavilhão norte-americano da Exposição Mundial de 1967, em Montreal, Canada, projectado por Buckminster Fuller. A estrutura transparente é uma cúpula geodésica. Crédito fotográfico: CédricThévenet.


A produção de futeboleno e de outros fulerenos permitiu o desenvolvimento de uma área da Química dedicada exclusivamente ao estudo das propriedades e possíveis aplicações científicas e tecnológicas do futeboleno e de outros fulerenos.

O tamanho, forma (podem ser esféricos, ovais ou terem a forma de um tubo) e o facto de os fulerenos serem ocos tornam-nos bons candidatos para a utilização em nanotecnologia. Os fulerenos são utilizados, entre outras áreas, em biomedicina, biotecnologia, optielectrónica, indústria cosmética e em células combustíveis.



P.S: O artigo da Nature pode ser lido na íntegra aqui.

Nota: O objectivo inicial de Kroto, Smalley e Curl era estudar a formação de compostos de carbono no interior das estrelas. Em 2010 um grupo de investigadores finalmente identificou a existência de moléculas de futeboleno numa nebulosa planetária, chamada Tc 1 (ver artigo da NASA, em inglês). Acerca desta descoberta Kroto disse:

“Esta descoberta tão emocionante fornece uma evidência convincente de que, como suspeitava há muito, o futeboleno tem existido, desde tempos imemoriais, nos recantos mais escuros da nossa galáxia”.

Citação de Kroto original (em inglês): “This most exciting breakthrough provides convincing evidence that the buckyball has, as I long suspected, existed since time immemorial in the dark recesses of our galaxy”

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Faz hoje um ano e um dia ...

Faz hoje um ano e um dia que iniciei este blog, tendo como objectivo apresentar textos escritos da minha autoria sobre temas relativos a Ciência e também a sua História. Queria escrever textos simples claros e curtos, com pequenas histórias falando sobre pequenas descobertas passadas e antigas. Gostaria que os meus textos motivassem os (hipotéticos) leitores para pesquisar mais sobre Ciência e conhecerem um pouco melhor a forma como a Ciência é feita.

Um factor que me motivou bastante foi não ser fácil encontrar na Internet informação acessível mas de fonte fidedigna sobre temas de Ciência, mesmo sobre temas actuais como as alterações climáticas. O que se encontra está escrito em inglês ou em português do Brasil. Foi por isso que escrevi O efeito de estufa explicado em 438 palavras e 1 figura.

Este facto transforma os artigos de imprensa nas melhores fontes de informação em português sobre Ciência. Mas as notícias são muitas vezes apresentadas com informações incompletas, quando não erradas. Por exemplo quando se noticiou o terramoto do Chile (27 de Fevereiro de 2010) os poucos artigos que tentaram explicar porque é que o terramoto tinha tornado os dias mais curtos, disseram que este tinha alterado o eixo de rotação da Terra. Mas O eixo de rotação da Terra é imune a terramotos!

Após um ano de escrita de textos (dos quais 8 se referem a logótipos comemorativos do Google sem nenhuma ligação directa à Ciência) cheguei à seguinte conclusão. Não é nada fácil escrever textos simples, claros e curtos.

Escolher o tema é fácil. Sites como o Science Daily (o meu preferido) apresentam todos os dias notícias sobre novas descobertas e sobre artigos com os resultados de experiências. Por vezes descobri estudos excêntricos como em Cabeças de chuveiro insuspeitas e A diferença está na dose!. Outras vezes descobri conceitos que desconhecia como em Terra à vista? ou em Quanto mais quente melhor. Outras fontes importantes são as revistas New Scientist, Scientific American e a Astronomy e o site da National Geographic (em inglês).

Escrever também não é complicado. Mais difícil é expor as ideias de forma simples, distribuídas por parágrafos curtos. Para ter a certeza que não estou a cometer nenhuma incorrecção nos conceitos científicos inerentes ao tema de um texto, pesquiso em várias fontes, quer na Internet quer em livros.

Sempre que a Google apresentou um logótipo alusivo a um acontecimento especial tentei escrever um texto. Destes o meu preferido é Parabéns a Hans Christian Andersen!. Descobri que este escritor dinamarquês, exímio na arte de cortar figuras em papel, visitou Portugal em 1866.


Depois há o número de palavras. Um texto com 600 palavras ou mais é muito massudo. Facilmente o leitor se perde nele. Julgo que o ideal seria mais ou menos 350 palavras. Os meus últimos textos têm entre 400 e 500, com tendência para diminuir, o que não é nada mau.

O número máximo de palavras e também a necessidade de explicar alguns conceitos científicos sem os quais alguns leitores poderão não compreender o assunto dos meus textos, levou-me à conclusão de que por vezes o melhor é dividir o texto em dois. Foi assim com a série Quanto mais quente, melhor! e Quanto mais quente melhor! – parte II, com a série Hidratos de metano, metano e mais metano e Evasão do metano nos mares da Sibéria, e finalmente com a série Dióxido de carbono, Oceanos e conchas e Fumarolas mostram consequências negativas de excesso de CO2 no mar. Esta última série está (por ora) incompleta, faltando um texto sobre a forma como o excesso de dióxido de carbono (CO2) influencia o sonar dos animais marinhos.

As figuras tornaram-se um complemento fundamental dos textos desde que um leitor me deu a dica de que iriam cativar mais os leitores. O primeiro artigo para o qual foi feita uma escolha cuidadosa de figuras foi A morada dos deuses, sobre Olympus Mons, a maior montanha de Marte (e também do Sistema Solar).

Penso que as figuras não só tornam os textos menos massudos, elas também permitem uma melhor compreensão de conceitos e a visualização de aspectos/objectos/seres vivos referidos no texto, como a figura de Terraços fresquinhos que indica a temperatura média de diferentes partes de uma rua.




Por vezes a simples presença de uma figura é suficiente para cativar o leitor. Vejam só esta fotografia de um de Os mais improváveis maus-da-fita!, tirada por Mark Mallory.




Em geral a escolha do título e das palavras-chaves fica para o fim, quando o texto já está terminado. Tento que o título seja o mais apelativo possível. A escolha das palavras-chave pode ser complicada. O ideal seria escolher até 4 palavras-chave mas por vezes é difícil decidir quais dos conceitos referidos no texto são os mais importantes.

A falta de tempo impediu-me de falar sobre muitos assuntos importantes. Aqueles que tenho mais pena de não ter apresentado no blog são sobre o tamanho do protão (algo com implicações muito importantes em Física e em Química – ver documento em formato pdf) e sobre uma trepadeira imparável chamado kudzu (Pueraria lobata). Para além de ser uma espécie invasora muito agressiva a sua presença provoca um aumento dos níveis de ozono na troposfera (camada da atmosfera mais próxima do solo). Embora seja importante na defesa contra os raios UV o ozono é muito tóxico, principalmente quando inalado.

A figura seguinte apresenta uma zona infestada de kudzu. No centro, invisível, está uma casa! Crédito fotográfico: Jack Anthony.



P.S.: Este é de longe o texto com mais palavras deste blog. São 905 palavras (926, se contarmos com esta frase)!

domingo, 5 de setembro de 2010

Cinco fotografias de Miguel Claro no NASA Picture of the Day

No dia 18 de Agosto O site Picture of the Day, da NASA, apresentou uma fotografia tirada pelo português Miguel Claro numa praia da Costa da Caparica no dia 12 de Agosto (dia previsto para a chuva de estrelas de Perseidas). A fotografia revela, da esquerda para a direita, Marte, Vénus (o mais brilhante) e Saturno. Em baixo ao centro, por entre duas pessoas, pode ver-se a Lua.


Segundo um artigo do Correio da Manhã “o interesse pela astronomia [de Miguel Claro] começou quando tinha doze anos”. Nesse artigo Claro refere "Primeiro interessei-me pela astronomia e depois pela fotografia. Rapidamente descobri a paixão pela fotografia dos astros".

Esta é a quinta fotografia de Miguel Claro escolhida para Picture of the Day. As outras quatro, todas tiradas em Portugal, são (por ordem cronológica decrescente):

Picture of the day – 5 de Novembro de 2009;
Fotografia tirada em Sobreda, mostra a Lua do Caçador. Esta figura resulta da conjugação de duas fotografias, uma com pequeno e outra com grande tempo de exposição. Esta técnica dá mais ênfase às zonas mais brilhantes da superfície lunar, em detrimento das zonas mais escuras.


Picture of the day – 22 de Novembro de 2008;
Fotografia panorâmica de Lisboa tirada a 13 de Novembro a partir do Cristo-Rei (Almada). A Lua Cheia nasce a Este, enquanto o Sol se põem a Oeste. Esta figura foi obtida pela conjugação de 17 fotografias digitais. Esta foto vê-se muito melhor aqui.


Picture of the day – 7 de Junho de 2009;
Fotografia tirada logo após o pôr-do-sol, a 4 de Junho, mostra a Lua em quarto crescente (no centro da figura). Ao fundo vê-se Lisboa e os montes de Sintra.


Picture of the day – 24 de Março de 2007;
Fotografia tirada a 20 de Março de 2007 apresenta a Lua em quarto crescente sobre a ponte 25 de Abril. O ponto brilhante no topo da fotografia é Vénus. Vénus só é visível durante do nascer-do-sol ou durante o pôr-do-sol. Durante muito tempo pensou-se que Vénus correspondia a dois astros diferentes, chamados “estrela da manhã” e “estrela vespertina”.



Para poder ver todas as fotografias do Miguel Claro na NASA aceder aqui.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Fumarolas mostram consequências negativas de excesso de CO2 no mar

O Journal of the Geological Society apresentou um estudo sobre a influência do nível de pH em populações de foraminiferas, organismos unicelulares protistas, contendo uma pequena concha (chamada teca) que (com algumas excepções) é constituída por carbonato de cálcio.

O estudo foi feito nas fumarolas vulcânicas situadas na costa da ilha de Ischia , que libertam naturalmente dióxido de carbono (CO2). Tal como acontece com o CO2 emitido para a atmosfera em resultado da actividade humana, o CO2 emitido pelas ventarolas provoca a diminuição do pH do mar em redor, ou seja torna-o mais ácido. A figura seguinte apresenta uma fotografia de fumarolas da costa de Ischia (Crédito fotográfico: Universidade de Plymouth, EUA).



Segundo o estudo, a acidificação do mar em torno das ventarolas é responsável por uma diminuição significativa de diversidade dentro do conjunto de foraminiferas (um decréscimo de 24 para 4 espécies). As foraminiferas foram escolhidas porque têm um ciclo de vida curto, são sensíveis a alterações no meio ambiente e porque se encontram bem representadas ao longo do registo fóssil. Em baixo encontram-se alguns exemplos (Crédito fotográfico: wikipedia).


O facto de terem uma concha constituída de carbonato de cálcio também foi importante na escolha das foraminiferas. A diminuição do nível de pH nos oceanos provoca a diminuição do carbonato de cálcio disponível para a construção da concha destes e de outros animais marinhos (como é explicado aqui).

Variações em número e distribuição global de foraminiferas no registo fóssil parecem ser, em geral, consequência de alterações climáticas a nível global. Por exemplo durante o Máximo Térmico do Paleaceno-Eoceno (em inglês Palaeocene-Eocene Thermal Maximum ou PETM), que aconteceu acerca de 55 milhões de anos ocorreu um aumento “rápido” (geologicamente falando) da temperatura média da Terra de 5-6 ºC. A temperatura média manteve-se elevada durante algumas dezenas de milhares de anos. Durante este período a quantidade e distribuição de foraminiferas no registo fóssil diminuiu de forma considerável.

Os resultados apresentados pelo estudo publicado agora estão de acordo com a hipótese defendida por vários investigadores (ver aqui [em inglês]) de que o aumento “rápido” da temperatura durante o PETM foi uma consequência da libertação de gases de efeito de estufa como o dióxido de carbono e o metano. O excesso de dióxido de carbono terá sido absorvido pelos oceanos provocando a diminuição do pH (acidificação dos oceanos).

Dióxido de carbono, oceanos e conchas

Os oceanos têm a capacidade de absorver parte do dióxido de carbono (CO2) emitido quer por fontes naturais quer por fontes antropogénicas (ou seja humanas). Mas este facto tem um custo, a acidificação dos oceanos.

Em Química a água do mar é uma solução aquosa, ou seja uma solução em que o solvente é a água e que contem vários solutos dissolvidos. Um dos solutos mais importantes (e o que lhe dá o sabor “salgado”) é o cloreto de sódio, melhor conhecido como sal de cozinha.

Uma das propriedades mais importantes de uma solução aquosa é o valor de pH, que está directamente relacionada com a concentração de iões H+ (o símbolo + deveria estar “superior à linha”). Quanto maior a concentração de H+ menor o valor de pH. As soluções podem ter valores de pH entre 0 e 14. As soluções ácidas têm um valor de pH inferior a 7 e as soluções básicas têm um valor de pH superior a 7. Soluções com um valor de pH igual a 7 são chamadas neutras (ver figura).


Vários estudos indicam que entre um quarto (1/4) e um terço (1/3) do CO2 produzido pelo Homem anualmente é absorvido pelos oceanos. Uma vez dissolvido no mar o CO2 reage com a água, promovendo a formação de iões H+ seguindo a reacção química (1) representada no esquema em baixo. Quanto maior a concentração de H+ na água do mar, menor o valor de pH, mais ácida será a água.

A reacção química (2) acontece para compensar o excesso de iões H+ na água do mar. O ião carbonato ([CO3]2-) que participa nesta reacção é “roubado” ao carbonato de cálcio, (CaCO3) dissolvido na água do mar, representado pela reacção química (3).

Assim quanto maior a quantidade de iões H+ no mar (ou seja quanto mais baixo for o valor de pH da água do mar), menor a quantidade de carbonato de cálcio disponível para a produção de conchas de moluscos (como por exemplo o mexilhão) e cefalópodes (como a lula e o choco), para a produção de carapaças de crustáceos (como o caranguejo e a lagosta) e para a produção de esqueletos de corais e esponjas.

Desde o início da Ievolução industrial, em meados do século XIX, o valor de pH dos oceanos desceu de 8,2 para 8,1. Pensa-se que nos próximos 50 a 100 anos o valor de pH poderá descer até 0,3 valores, até 7,8.