terça-feira, 15 de junho de 2010

Os mais improváveis maus-da-fita!

Um estudo realizado por investigadores no Canada numa pequena ilha do Árctico revela que mesmo ambientes terrestres muito afastados de zonas industriais podem ser contaminados com metais pesados. Estes não são trazidos pelas correntes marítimas ou pelos ventos, mas sim pelas aves que nidificam na ilha.

O estudo revela que o tipo de contaminantes das lagoas da Ilha de Tern (literalmente “Ilha das Andorinhas-do-Mar”) depende das espécies de aves que nidificam à sua volta. Existem pelo menos duas lagoas na ilha. A maior é chamada Lagoa dos Eider ou “Eider Pond”, porque à sua volta se estabeleceu uma colónia de êider-grandes, uma espécie de pato marítimo que habita no Árctico.

A figura seguinte apresenta um casal de êider-grandes. A fêmea tem uma plumagem acastanhada e o macho de plumagem branca e preta.


A outra lagoa é chamada “Lagoa das Andorinhas-do-Mar” ou “Tern Pound” porque é o local de nidificação destas aves na ilha. A figura seguinte apresenta um casal de andorinhas-do mar.


Segundo o estudo realizado pela equipa liderada por Neal Michelutti o tipo de contaminantes encontrados em cada uma das lagoas difere bastante, embora as lagoas estejam próximas e como tal estejam sujeitas às mesmas condições geológicas e meteorológicas. As variações devem-se exclusivamente a factores biológicos.

O estudo revelou que o tipo e quantidades de metais pesados presentes nos sedimentos de cada uma das lagoas estão directamente direccionados com o tipo de alimentação praticada por cada espécie de aves.

A “Eider Poud” (ver fotografia seguinte) contém uma elevada concentração de chumbo, alumínio e manganês, metais existentes em grande concentração nos moluscos, o alimento de base dos êider-grandes.

A “Tern Poud” (ver fotografia seguinte) contém uma elevada concentração de mercúrio e cádmio, metais existentes em grande concentração nos pequenos peixes que servem de alimento de base das andorinhas-do-mar.

A ingestão de metais pesados como o chumbo, o cádmio e o mercúrio, mesmo que em quantidades muito, muito reduzidas, pode provocar graves problemas de saúde. Em geral os metais pesados são subprodutos (resíduos descartados) de processos industriais e muitas vezes são directamente libertados para o meio ambiente, sem tratamento prévio. Por este motivo a quantidade dos metais pesados em zonas industriais, nos rios e mesmo no mar têm aumentado consideravelmente.

Um dos problemas mais graves dos metais pesados resulta do processo de bioacumulação. Qualquer substância, tóxica ou não, pode ser assimilada pelos seres vivos de diferentes formas, como por exemplo inalação (pelas vias respiratórias) ingestão (vias digestivas) e o contacto directo com a pele Quando a taxa de eliminação de uma substância pelo organismo é inferior à sua taxa de assimilação essa substância acumula-se no organismo, ou seja ocorre a sua bioacumulação.

Os seres vivos podem eliminar uma substância excretando-a directamente ou transformando-a noutra substância (que por sua vez é excretada). Um meio de excreção pouco conhecido nos mamíferos é o suor. O problema dos metais pesados é que muitos organismos não têm formas naturais de promover a sua excreção. E os metais pesados são muito tóxicos, criando alterações graves no funcionamento das células.

Nota: Segundo a Infopédia a palavra edredão (coberta acolchoada para a cama, cheia de penas, sumaúma, algodão ou lã) tem origem numa palavra islandesa aedardun, que quer dizer «penugem do êider».

Fotografia de uma êider-grande fêmea no ninho.

Fotos de Mark Mallory (aves) e John Smol (lagoas) que se pode encontrar site da PEARL (Paleoecological Environmental Assessment and Research Laboratory), Universidade de Queens.

Sites consultados:
- http://www.sciencedaily.com/releases/2010/05/100525133224.htm
- http://www.pnas.org/content/107/23/10543 - abstract do artigo da PNAS.