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quarta-feira, 13 de março de 2013

Falta de fósforo provoca aumento da toxicidade das marés vermelhas do Golfo do México

 
A baixa concentração de fósforo na água é um factor importante para a toxicidade da microalga Karenia brevis, responsável pelas devastadoras ‘marés vermelhas’ no Golfo do México. Quanto menor a concentração do fósforo, maior a toxicidade destas algas. Esta é a conclusão de um estudo pulicado este mês num artigo da revista PLoS ONE  e realizado por investigadores do National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA) e da Universidade Estatal da Carolina do Norte, ambas instituições norte-americanas. A figura em cima apresenta um mapa do Golfo do México (crédito: Google Earth) e uma fotografia de uma célula de Karenia brevis (crédito: Bob Andersen e D. J. Patterson).
 
A K. brevis é uma alga unicelular (um dinoflagelado) que existe principalmente no Golfo do México e em zonas próximas do oceano Atlántico. Em geral é inofensiva, embora capaz de produzir um conjunto de neurotoxinas, chamadas brevetoxinas. Mas por vezes ocorre um crescimento excessivo destas algas, criando uma ‘maré vermelha’ (assim chamada devido à cor vermelha que tinge a água). As células de K. brevis de uma ‘maré vermelha’ produzem brevetoxinas em maior quantidade, podendo provocar a morte de diversos animais marinhos (peixes, lulas, manatins, golfinhos e tartarugas, entre outros) e de aves marinhas e tornar-se um problema grave de saúde pública para as populações humanas próximas das zonas afectadas.
 
As brevetoxinas produzidas pela K. brevis são absorvidas e acumuladas por diversos moluscos, como amêijoas, mexilhões, ostras, búzios. As toxinas não afectam muito os moluscos, mas têm efeitos muito nocivos nos animais que os consomem (incluindo o homem) e os restantes animais da cadeia alimentar. Ao contrário do que acontece com vários animais marinhos, incluindo golfinhos, não são conhecidos casos mortais de intoxicação por brevetoxinas em humanos. Mas as pessoas afectadas apresentam sintomas variáveis, como formigueiro, dores abdominais, náuseas, diarreia, mialgias (dores musculares), variações de sensação de calor e frio, vertigens, ataxia (perda de coordenação), dores de cabeça e bradicardia (diminuição do batimento cardíaco).
 
As conclusões do estudo agora publicado pela PLoS ONE, indiciam que não é durante o crescimento exponencial de K. brevis (que provoca o aparecimento da ‘mancha vermelha’) que aumenta a toxicidade desta alga. Como refere Damian Shea, investigador do departamento da Universidade Estatal da Carolina do Norte e um dos autores do artigo, “é no fim do crescimento exponencial que forma a ‘mare vermelha’, quando os nutrientes estão esgotados, que as células de K. brevis produzem uma explosão de toxicidade”.
 
O estudo provou que em ambientes com reduzida quantidade de fósforo a K. brevis tem tendência para acumular brevetoxina em quantidades 2,3 a 7,3 maiores do que K. brevis em ambiente com quantidade normais de fósforo. Também demonstrou que algumas estirpes de K. brevis são mais tóxicas (produzem maior quantidade de toxinas) que outras.
 
De acordo com os autores do artigo da PLoS ONE a produção de brevetoxina em excesso parece ser uma forma de protecção da K. brevis para evitar ser vítima dos predadores, em tempo de falta de nutrientes. Mas esta situação cria também uma espécie de “reacção em cadeia” (feed-back positivo): ao evitarem 'ser comidas' as algas vão esgotando os nutrientes à sua volta e, como consequência, tornando-se cada vez mais tóxicas.
 
“Consideramos que as conclusões deste estudo irão ser úteis no para modelar futuras situações de crescimentos exponenciais de algas tóxicas e quão prejudiciais poderão ser”, indica Donnie Ransom Hardison, elemento da NOAA e investigador do departamento da Universidade Estatal da Carolina do Norte e primeiro autor do artigo.
 
Os autores do artigo referem que o modo actual de monitorização da K. brevis, baseado na contagem do número de células desta alga, terá se ser repensado, porque baseia-se no pressuposto que a concentração de brevetoxina nas células se mantém constante. Mas os resultados do estudo agora publicado revelam que é necessário medir também a concentração de brevetoxina. Hardison indica outra forma de monitorização: “Os inspectores da saúde pública podem testar os níveis de fósforo na água ao longo do Golfo do México, sabendo que baixos valores podem indicar uma ‘maré vermelha’ muito tóxica”.
 
A figura em baixo é uma fotografia de uma ‘maré vermelha’ de Karenia brevis na ilha de Little Gasparilla no estado de Flórida, Estados Unidos (Crédito: Gulf Coast Preservation).
 
 
 
Notas:
(1) Artigo da PLoS ONE.
(2) Press release da Universidade Estatal da Carolina do Norte.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Os mais improváveis maus-da-fita!

Um estudo realizado por investigadores no Canada numa pequena ilha do Árctico revela que mesmo ambientes terrestres muito afastados de zonas industriais podem ser contaminados com metais pesados. Estes não são trazidos pelas correntes marítimas ou pelos ventos, mas sim pelas aves que nidificam na ilha.

O estudo revela que o tipo de contaminantes das lagoas da Ilha de Tern (literalmente “Ilha das Andorinhas-do-Mar”) depende das espécies de aves que nidificam à sua volta. Existem pelo menos duas lagoas na ilha. A maior é chamada Lagoa dos Eider ou “Eider Pond”, porque à sua volta se estabeleceu uma colónia de êider-grandes, uma espécie de pato marítimo que habita no Árctico.

A figura seguinte apresenta um casal de êider-grandes. A fêmea tem uma plumagem acastanhada e o macho de plumagem branca e preta.


A outra lagoa é chamada “Lagoa das Andorinhas-do-Mar” ou “Tern Pound” porque é o local de nidificação destas aves na ilha. A figura seguinte apresenta um casal de andorinhas-do mar.


Segundo o estudo realizado pela equipa liderada por Neal Michelutti o tipo de contaminantes encontrados em cada uma das lagoas difere bastante, embora as lagoas estejam próximas e como tal estejam sujeitas às mesmas condições geológicas e meteorológicas. As variações devem-se exclusivamente a factores biológicos.

O estudo revelou que o tipo e quantidades de metais pesados presentes nos sedimentos de cada uma das lagoas estão directamente direccionados com o tipo de alimentação praticada por cada espécie de aves.

A “Eider Poud” (ver fotografia seguinte) contém uma elevada concentração de chumbo, alumínio e manganês, metais existentes em grande concentração nos moluscos, o alimento de base dos êider-grandes.

A “Tern Poud” (ver fotografia seguinte) contém uma elevada concentração de mercúrio e cádmio, metais existentes em grande concentração nos pequenos peixes que servem de alimento de base das andorinhas-do-mar.

A ingestão de metais pesados como o chumbo, o cádmio e o mercúrio, mesmo que em quantidades muito, muito reduzidas, pode provocar graves problemas de saúde. Em geral os metais pesados são subprodutos (resíduos descartados) de processos industriais e muitas vezes são directamente libertados para o meio ambiente, sem tratamento prévio. Por este motivo a quantidade dos metais pesados em zonas industriais, nos rios e mesmo no mar têm aumentado consideravelmente.

Um dos problemas mais graves dos metais pesados resulta do processo de bioacumulação. Qualquer substância, tóxica ou não, pode ser assimilada pelos seres vivos de diferentes formas, como por exemplo inalação (pelas vias respiratórias) ingestão (vias digestivas) e o contacto directo com a pele Quando a taxa de eliminação de uma substância pelo organismo é inferior à sua taxa de assimilação essa substância acumula-se no organismo, ou seja ocorre a sua bioacumulação.

Os seres vivos podem eliminar uma substância excretando-a directamente ou transformando-a noutra substância (que por sua vez é excretada). Um meio de excreção pouco conhecido nos mamíferos é o suor. O problema dos metais pesados é que muitos organismos não têm formas naturais de promover a sua excreção. E os metais pesados são muito tóxicos, criando alterações graves no funcionamento das células.

Nota: Segundo a Infopédia a palavra edredão (coberta acolchoada para a cama, cheia de penas, sumaúma, algodão ou lã) tem origem numa palavra islandesa aedardun, que quer dizer «penugem do êider».

Fotografia de uma êider-grande fêmea no ninho.

Fotos de Mark Mallory (aves) e John Smol (lagoas) que se pode encontrar site da PEARL (Paleoecological Environmental Assessment and Research Laboratory), Universidade de Queens.

Sites consultados:
- http://www.sciencedaily.com/releases/2010/05/100525133224.htm
- http://www.pnas.org/content/107/23/10543 - abstract do artigo da PNAS.