Estaremos
sozinhos no Universo? Será a Terra o único planeta habitado e habitável na Via Láctea?
Quão comuns são os planetas com possibilidades de vida? Foi em parte para
responder a estas questões que em 2007 a NASA lançou a sonda Kepler. Desde então
e não sem percalços, a Kepler tem sido a maior responsável pela descoberta de
exoplanetas: 1000 planetas confirmados no início de 2015 e mais de 4000
candidatos à espera de confirmação.
A
maioria dos planetas descobertos pela Kepler não parece ser propícia à vida
como a conhecemos. Muitos são planetas gasosos e não rochosos como a Terra. São
também maiores que o nosso planeta e estão no local errado, demasiado próximos
ou demasiado distantes da estrela mãe para permitir a condição considerada primordial
para a vida: água no estado líquido.
A
descoberta de tantos planetas, num espaço tão curto (a Kepler analisa uma muito
pequena parte da Via Láctea, situada entre as constelações de Cisne, Dragão e Lira,
ver figura à esquerda) traz esperança aos astrónomos. Mas a própria forma como
a Kepler “actua” para detectar planetas (o método de trânsito) leva a que lhe seja
mais fácil encontrar planetas grandes e muito próximos da estrela mãe. Existem
no entanto formas de tentar ultrapassar este problema e descobrir exoplanetas
mais pequenos e mais distantes, “invisíveis” ao escrutínio da Kepler a partir
dos próprios dados desta sonda. Uma delas é o recurso à Lei de Titius-Bode.
A Lei
de Titus-Bode descreve a distância ao Sol de sete dos oito planetas do sistema
solar (Neptuno é a excepção). Em 1766 o astrónomo alemão Johann Daniel Titius (1729 – 1796) propôs a existência de uma
razão entre estas distâncias, descrita por uma série (sequência) de números: 0, 3, 6, 12, 24, 48, 96, 192, … . Quando se soma 4 a cada
número desta série e se divide por 10 obtém-se os valores do semi-eixo
maior das órbitas dos planetas: 0,4; 0,7; 1,0; 1,6; 2,8; 5,2; 10,0; 19,6 (em UA,
unidades astronómicas).
A Lei
de Titus-Bode foi
popularizada em 1772 por um outro astrónomo alemão, Johann Elert Bode (1747 –1826) e levou à descoberta do planeta
anão Ceres em 1801 e da cintura de asteroides (que se encontram a 2,8 UA do
Sol). Quando em 1781 foi descoberto Úrano rapidamente se confirmou que também
este planete segue a Lei de Titus-Bode.
Ainda
hoje não se sabe o que está por detrás da Lei de Titus-Bode. Mas o estudo dos
sistemas estelares identificados pela Kepler indicia que esta não é uma simples
coincidência. Vários estudos publicados na década de 2010 demostram que pelo
menos 124 dos 151 sistemas estelares com entre 3 e 6 planetas descobertos pela
Kepler seguem a Lei de Titus-Bode. Este facto permite que esta lei possa ser
usada para prever a existência de outros planetas nestes sistemas, tal como
aconteceu com Ceres e Neptuno.
Um
estudo agora publicada pela revista Monthly Notices of the Royal Astronomical
Society usa a Lei de Titus-Bode para estudar os 151
sistemas estelares descobertos pela Kepler. Os autores do estudo pensam que
será possível encontrar até 228 novos planetas nestes sistemas. Esperam também que
no futuro seja possível estudar directamente 40 sistemas estelares para
descobrir 77 planetas até agora “invisíveis”. Baseados nos seus cálculos, os astrónomos
defendem que poderão existir em média entre 1 e 3 planetas na zona habitável (zona
onde os planetas poderão ter água no estado líquido) dos 151 sistemas em causa.
A
sonda Kepler estuda um ínfimo das 100 a 400 milhões de estrelas que se pensa
existirem na Via Láctea. A ser verdade que tantas dessas estrelas têm o seu
próprio sistema solar, com entre 1 a 3 planetas com água no estado líquido é
então possível que não estejamos sós no Universo. É bem provável até que tenhamos
companhia na nossa galáxia.
Crédito
das figuras:
1) NASA/JPL-Caltech
2) Carter Roberts
/ Eastbay Astronomical Society
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