Todos os dias utilizamos centenas de litros de
água. É importante que, depois de usadas e contaminadas, estas águas residuais
domésticas e industriais possam retomar ao meio ambiente “limpas”, sem
constituírem um perigo para ninguém. Actualmente em Portugal isso é feito pelas
Estações de Tratamento de Águas Residuais (ETARs). Mas poderá o tratamento de
águas residuais ter outras vantagens? Um grupo de investigadores da
Universidade Autónoma de Barcelona defende que sim: É possível produzir
electricidade e gás hidrogénio a partir dos resíduos orgânicos das águas
residuais.
A ideia de produzir electricidade a partir de
águas residuais não é nova. Os compostos orgânicos que contaminam as águas
residuais têm um elevado nível de energia química (energia contida nas ligações
químicas entre os átomos das moléculas orgânicas) que pode, em princípio, ser
transformada em energia eléctrica. Mas
só recentemente apareceram os primeiros sistemas bioeléctricos, sistemas que
recorrem a micro-organismos para produção de electricidade ou de gases como o
hidrogénio.
Os cientistas do grupo catalão criaram uma célula
que recorre a microorganismos para produzir gás hidrogénio, chamada célula
electrolítica microbiana (ver figura à esquerda). Esta é uma célula simples, constituída por apenas uma
câmara cheia de águas residuais onde estão mergulhados dois eléctrodos. Os
eléctrodos estão ligados a um pequeno circuito eléctrico que fornece uma
corrente eléctrica com uma tensão de 0,8 V (menos de que uma pequena pilha do
comando de televisão).
É num dos eléctrodos da célula electrolítica
microbiana, o ânodo, que se dá a magia. O ânodo está coberto por um biofilme
com centenas de milhares de bactérias de dois tipos diferentes: Por um lado
bactérias fermentadoras, que transformam os resíduos orgânicos em moléculas orgânicas mais simples; por outro lado bactérias exoelectrogénicas, que usam as moléculas mais simples para
“produzir” electrões. Os electrões são depois “recolhidos” pelo ânodo e a
corrente eléctrica gerada desta forma é usada para produzir gás hidrogénio.
O grupo de investigadores pretende optimizar estas
células electrolíticas e adapta-las, para que possam ser usadas em ETARs na
rentabilizar dos resíduos orgânicos. O grupo publicou agora um artigo em que
prova a produção abundante de gás hidrogénio a partir de águas residuais ricas
em leite (uma mistura de proteínas, açucares e gorduras), e de águas residuais
domésticas.
Os investigadores testaram a célula
electroquímica microbiana com quatro tipos de águas residuais: uma constituída principalmente
por leite (mistura de proteínas, gordura e açucares, à esquerda), outra constituída
principalmente por glicerol (ao centro), amido (principal constituinte de
batatas, à direita) e finalmente uma mistura das três primeiras. Apenas o
primeiro tipo (leite) e a mistura de águas residuais deram resultados
satisfatórios.
De acordo com o grupo de investigadores da Universidade Autónoma de Barcelona, os resultados demonstram que no
futuro pode ser possível a adaptação de células electrolíticas microbianas a
ETARs, pelo menos a nível das águas residuais domésticas (produzidas em
cidades, vilas e aldeias) e das águas residuais da indústria de lacticínios.
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