domingo, 3 de julho de 2011

Maquinas de lavar louça podem ter hóspedes inesperados!

Um estudo a publicar brevemente pela revista Fungal Biology revela que as máquinas de lavar louça podem albergar fungos potencialmente perigosos para a saúde. Para este estudo foram testadas 189 máquinas de 101 cidades de 18 países espalhados pelos 6 continentes (Crédito: Piotruz, adaptado).


Segundo o estudo 62% das máquinas testadas albergavam fungos nas borrachas que selam as portas. Os fungos alimentam-se dos restos de comida que ficam nos pratos, talheres e tachos. Os fungos encontrados pertencem aos géneros Aspergillus, Candida, Exophiala, Magnusiosmyces, Fusarium, Penicillum e Rhodotorula, que podem provocar doenças em humanos.

As espécies de fungos encontradas nas máquinas de lavar louça são raras na natureza e são organismos extremófilos (que ocupam normalmente nichos de condições extremas de temperatura, salinidade e pH). Para estas espécies as máquinas de lavar louça tornaram-se ambientes bastante toleráveis. Os fungos parecem ser sensíveis ao tipo de água. Os fungos do género Exophiala, por exemplo, preferem águas médias ou duras (águas com maior concentração de iões cálcio e magnésio).

Durante um ciclo de lavagem as máquinas de lavar a louça apresentam condições temporárias extremas de temperatura (60 °C a 80°C), humidade elevada, elevados valores de salinidade, presença de detergentes e pH básico forte. Estas condições eliminam potenciais competidores. Os autores do estudo verificaram que os fungos descobertos nas máquinas de lavar a louça também suportam ambientes de pH ácido.

A figura seguinte é a fotografia em infravermelho do interior de uma máquina de lavar louça após terminar um ciclo de lavagem (Crédito: Scientifica/Visuals Unlimited/Corbis).


Os autores do estudo consideram que existe a possibilidade de os fungos que vivem no interior das máquinas de lavar loiça, adaptados às condições extremas, se cruzarem com outros fungos da sua espécie e, por recombinação genética (que acontece sempre como consequência da reprodução sexuada).

Para os autores do estudo a situação mais preocupante é a contaminação com os fungos das espécies Exophiala dermatitides e Exophiala phaeomuriformis. Estas espécies foram encontradas em 56% das máquinas de lavar louça contendo fungos (sensivelmente 36% das máquinas avaliadas) e podem facilmente contaminar pessoas imunodeprimidas (pessoas com o sistema imunitário “em baixo”), doentes com fibrose quística e (raramente) pessoas saudáveis.

A figura seguinte apresenta uma cultura de E. dermatitides, obtida a partir de uma amostra recolhida de um cão infectado (Crédito: Rui Kano/PFDB).

A E. dermatitides e a E. phaeomuriformis infectam uma pessoa através de uma ferida aberta. Uma vez no interior do organismo podem provocar feohifomicoses, endocardites (que afectam os tecidos do coração), e inclusive afectar o cérebro. Os doentes com fibrose quística são mais sensíveis à acção de fungos porque tomam antibióticos com frequência (os antibióticos actuam sobre as bactérias mas não sobre os fungos).



Notas:


(1) Este texto foi adaptado a partir de informações nos seguintes sites:
http://www.elsevier.com/wps/find/authored_newsitem.cws_home/companynews05_01987
http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1878614611000729
http://www.scientificamerican.com/blog/post.cfm?id=unwanted-housemates-dishwashers-pro-2011-06-21
http://www.cienciahoje.pt/index.php?oid=49767&op=all

(2) Este artigo (em português) refere-se a doenças provocadas por fungos.

(3) Este artigo (em inglês) apresenta informações sobre feohifomicose.

(4) Este artigo (em português) apresenta informações sobre a fibrose quística.

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