quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Cientistas estudam fumo dos incêndios florestais



O primeiro estudo sobre os compostos orgânicos voláteis (COV) no fumo de incêndios florestais em Portugal vai ser publicado pela revista Atmospheric Environment, no início de 2013. Foi realizado por investigadores do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (Cesam) da Universidade de Aveiro, baseando-se na análise de fumo recolhido em incêndios que ocorreram no Norte do país durante 2010.

Os COV presentes na atmosfera podem ter fontes naturais, como as florestas, ou ser produzidos pelo homem. Alguns dos COV, como o benzeno e o tolueno, são cancerígenos. Durante o dia, sob a ação da radiação solar os COV reagem com outros compostos presentes na atmosfera, formando-se ozono e partículas de tamanho microscópico, chamados aerossóis, que são ambos nocivos para a saúde pública e para o meio ambiente. Podem provocar problemas respiratórios em pessoas e animais. O ozono pode também provocar alergias e destruir a vegetação.

Foram os próprios investigadores que recolheram o fumo no local, com o apoio dos bombeiros que combatiam o incêndio. “Nós sabíamos do incêndio, através da página de internet da Autoridade Nacional de Protecção Civil”, indica Margarita Evtygina, investigadora do Cesam e uma das autoras do estudo. “Os bombeiros deixavam-nos aproximar do incêndio e nós tentávamos ficar sempre ao pé deles, porque um incêndio é um evento muito perigoso e imprevisível.”

Ocorrem muitos incêndios florestais em Portugal. “O seu número tem tendência a aumentar porque cada vez temos mais secas e temperaturas mais altas durante a época de verão”, refere Margarita Evtygina. Estudos sobre os COV presentes no fumo de incêndios florestais foram feitos em outros países, como o Canadá e a Alemanha. Mas estas florestas têm características muito diferentes das florestas portuguesas, constituídas maioritariamente por pinheiros ou por eucaliptos.

A constituição da floresta tem uma grande influência na composição do fumo emitido durante um incêndio, como foi aliás confirmado no estudo pela equipa de investigadores do Cesam. “Verificou-se que durante um incêndio as emissões de COV da floresta composta por eucaliptos são diferentes das emissões da floresta composta por pinheiros”, confirma Margarita Evtygina.

Os resultados da equipa de investigadores do Cesam poderão ser utilizados na construção de modelos mais fiáveis dos gases emitidos durante um incêndio florestal em Portugal. “Os modelos são usados para fazer previsões e para estabelecer regras de política ambiental”, refere Margarita Evtygina.” Os resultados produzidos pelos modelos atuais, baseados em emissões de florestas com características diferentes das portuguesas, têm grandes incertezas e muitas vezes não são representativos”.