Os
remoinhos lunares são áreas da superfície da Lua em que o albedo é menor
(refletem mais a luz). Não são esquisitos na sua localização, existido em zonas
com topografias muito diferentes, e podem estender-se por dezenas de
quilómetros fazendo desenhos ondulantes sobre a superfície lunar. Mas tornam-se
mais visíveis contra o fundo escuro dos mares, como prova a figura seguinte,
uma fotografia de Reiner Gamma, um dos remoinhos lunares mais famosos, situado
no Oceanus Procellarum (o maior dos mares lunares), perto da cratera Reiner,
que lhe dá o nome. Na fotografia a cratera Reiner (com 30 km de diâmetro)
situa-se em baixo à direita (Crédito: NASA).
Foram
propostas várias hipóteses para a formação dos remoinhos lunares e para o seu baixo
albedo. A mais importante baseia-se numa estranha coincidência: os remoinhos
situam-se em zonas que apresentam uma “anomalia magnética”. Segundo esta
hipótese, o campo magnético desta anomalia protegeria a zona da acção do vento
solar.
O vento
solar é libertado continuamente pelo Sol, atingindo todos os recantos do
Sistema Solar. É constituído por protões, electrões e iões que se movem a
grandes velocidades (em média de 400 km/s), o que o torna mortal para a Vida. A
Terra, e outros planetas, produzem um campo magnético que desvia o vento solar.
Mas a Lua não.
O vento
solar é responsável pelo escurecer da superfície lunar. Segundo a hipótese
favorita para a existência dos remoinhos lunares a superfície da Lua protegida
pelas anomalias magnéticas não escurecia, mantendo um aspecto claro e “jovem”. O
problema desta hipótese é que o campo magnético gerado pelas anomalias
magnéticas é demasiado fraco para impedir a passagem do vento solar.
Este facto
parece ter sido agora “ultrapassado” por um estudo publicado pela revista Physical
Review Letters, que recria em laboratório as condições que ocorrem na Lua. Um
pequeno íman é colocado sobre uma placa (que faz as vezes da superfície lunar)
e são ambos submetidos à acção de vento solar “artificial”. Os resultados
parecem espelhar o que acontece na Lua, de acordo com os dados recolhidos por
sondas lunares.
As figuras seguintes
mostram o que acontece à “superfície lunar” quando é sujeita à acção do vento
solar no laboratório. O campo magnético é demasiado fraco para impedir ou
desviar os protões e os iões. Mas os electrões seguem as linhas do campo
magnético e são desviados. Isto provoca a separação entre a carga negativa
(electrões) e a carga positiva (protões e iões), criando um campo eléctrico. É
este campo eléctrico que desvia e repele de forma eficaz a grande maioria das
partículas de carga positiva (os poucos que passam ajudam a manter o campo eléctrico).
A figura à
esquerda é um esquema de como se forma e mantem um remoinho lunar. A figura à
direita é o negativo de uma fotografia tirada em laboratório durante uma
experiência com um íman sujeito à acção do vento solar. A barra preta é o
“vento solar” e o campo eléctrico cria uma bolha protectora. Na Lua a bolha
protectora criada pelo campo eléctrico pode atingir vários quilómetros de
altura (Crédito: Bamford et al, Physical Review Letters).
Os
resultados obtidos em laboratório estão de acordo com a informação recolhida
pelas sondas espaciais que têm estudado a Lua, e com um modelo matemático desenvolvido
pelos autores do estudo da Physical Review Letters. As ondulações visíveis na
superfície lunar, que dão o nome ao fenómeno, são muito possivelmente
provocadas pelo relevo do solo lunar.
Este estudo
traz ainda a esperança de resolução de um dos problemas mais importantes na
exploração espacial pelos humanos: como ultrapassar o efeito nefasto do sempre
presente vento solar. A grande velocidade das partículas com carga torna-as
fatais para todos os humanos que se atrevam a sair da “bolha protectora”
formada pelo campo magnético gerado pela Terra. A exploração da Lua por
astronautas é possível porque a “bolha protectora” também protege o nosso satélite
natural. Mas a viagem até Marte é impossível sem uma protecção contra o vento
solar.
O estudo da
Physical Review Letters indicia que é possível criar uma “bolha protectora” em
volta de uma nave espacial apenas com um campo magnético de baixa intensidade,
de uma forma muito semelhante ao que acontece com os ondulantes remoinhos
lunares. O efeito poderá ser igual ao que se pode ver na figura seguinte, uma
fotografia de um pequeno íman sujeito à acção do vento solar (com um brilho púrpura)
(Credito: RAL Space & Uni. of York).
Nota: O
artigo da revista Physical Review Letters pode ser encontrado aqui.