segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Novas de Lutetia

O asterióide 21 Lutetia é capa de revista do último número de Outubro da Science (apresentada na figura em cima). A revista dedica três artigos ao asteróide, com o resultado da análise das informações recolhidas pela Sonda Espacial Rosetta. Os artigos revelam que este não é um asteróide qualquer, mas um planetesimal, uma relíquia do tempo da formação do sistema solar.


O objecto principal de estudo da Rosetta é o cometa Churyumov-Gerasimencko (o encontro está previsto para 2014). O estudo do 21 Lutetia, que estava “em caminho”, servia apenas para testar os instrumentos da Rosetta. Mas o asteróide acabou por ser uma “caixinha de surpresas”.


A figura anterior mostra a fotografia mais detalhada do asteróide 21 Lutetia tirada pela sonda Rosetta, aquando da aproximação máxima ao asteróide, a 20 de Julho de 2010. A Rosetta tirou inúmeras fotografias que permitiram mapear 50 % da superfície do asteróide em torno do seu pólo Norte, determinar a sua área e volume e ainda localizar e contar as suas crateras. As informações fornecidas pela Rosetta permitiram, entre outras coisas, determinar que o 21 Lutetia tem um comprimento de 130 km (Crédito: ESA 2011 MPS for OSIRIS Team MPS/UPD/LAM/IAA/RSSD/INTA/UPM/DASP/IDA).

A fotografia seguinte apresenta três imagens tiradas durante a aproximação da Roseta ao 21 Lutécia. Da esquerda para a direita fotografia tirada a 60 minutos (53 000 km de distância), 30 minutos (27 000 km) e 3 min (3 500km). A distância mínima da Rosetta ao asteróide foi de 3162 km. O pólo Norte é indicado pela cruz azul e as letras identificam regiões diferentes do asteróide. Na imagem mais à direita as regiões estão identificadas por diferentes cores (Crédito: ESA 2011 MPS for OSIRIS Team MPS/UPD/LAM/IAA/RSSD/INTA/UPM/DASP/IDA).


Quando a Rosetta passou pelo 21 Lutetia o asteróide exerceu uma força gravítica que provocou a alteração da rota da sonda. Como a força gravítica exercida por um astro depende da sua massa foi possível determinar que o 21 Lutetia tem uma massa de 1,7 triliões de toneladas. A determinação da massa e do volume do asteróide permitiu calcular a sua densidade. O 21 Lutetia é (até ver) um dos asteróides mais densos conhecidos, com uma densidade de 3400 kg/m3.

É muito provável que, aquando da sua formação, 21 Lutetia tivesse uma forma arredondada. A sua forma actual é consequente do embate de meteoros de grandes dimensões. As fotografias tiradas pela Rosetta permitiram determinar que o 21 Lutetia possui pelo menos 350 crateras com mais de 600 m de diâmetro. A maior cratera, chamada Massília, tem um diâmetro de 55 km.

O embate de meteoritos levou a formação de uma camada de rególito, detritos e restos de rochas, com entre 600 m a 1 km de altura. Vários embates de meteoritos geraram vibrações que levaram ao deslizamento de rególito, como mostra a figura seguinte (Crédito: ESA 2011 MPS for OSIRIS Team MPS/UPD/LAM/IAA/RSSD/INTA/UPM/DASP/IDA).


O estudo das crateras do 21 Lutetia permitiu determinar a idade da superfície do asteróide (quanto maior o número de crateras mais “velha” é a superfície). Esta tem áreas recentes (em termos astronómicos) com menos de 50 milhões de anos. Mas também têm zonas com idade superiores a 3,6 biliões de anos. Este facto torna o 21 Lutetia um provável planetesimal, um astro precursor de planetas que se formou nos primeiros momentos do Sistema Solar.


 

P.S.: Mais informação sobre os artigos do asteróide 21 Lutetia na revista Science de Outubro de 2011 aqui, aqui e aqui.


 
Notas:

(1) O 21 Lutécia é um dos maiores membros da Cintura de Asteróides, situada entre os planetas Marte e Júpiter. Foi descoberto em 1852, tendo recebido o nome de uma das cidades romanas mais importantes na Gália, Lutécia (actual Paris). A Rosetta passou pelo 21 Lutetia em meados de 2010. A 10 de Julho de 2010 passou o mais próximo do asteróide, a apenas 3162 km de distância.

(2) A grande densidade do 21 Lutetia pode ser explicada pela presença de grandes quantidades de ferro no interior do asteróide No entanto a análise feita pela sonda Rosetta da superfície do 21 Lutetia indicia que o ferro não forma um núcleo central neste asteróide (como acontece na Terra).

(3) Actualmente a sonda espacial Rosetta encontra-se em hibernação, seguindo na direcção do cometa Churyumov-Gerasimenko. O encontro está previsto para 2014.

(4) A figura seguinte é uma representação artística do 21 Lutetia, apresentada pela ESA a 8 de Julho de 2010 (Crédito: ESA - C. Carreau).

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