Os astrónomos do Observatório Europeu do Sul (European Southern Observatory ou ESO, no original) orientaram os quatro telescópios que compõem o Very Large Telescope para um ponto brilhante, mas invisível no céu e tiveram uma agradável surpresa: uma muito rara estrela hipergigante amarela, a estrela desta categoria mais próxima da Terra. As imagens recolhidas pelo VLT revelam uma grande estrela rodeada por duas camadas de matéria (libertada pela própria estrela). Os investigadores, inspirados por imagens como a de baixo, deram-lhe um novo nome, a nebulosa ovo estrelado (Crédito: ESO/E. Lagadec).
A nebulosa Ovo Estrelado era, até poucos dias, apenas conhecida pelo seu nome de catálogo, IRAS 17163-3907. Está situada a 13 000 anos luz da Terra, na direcção da constelação de Escorpião, é um dos astros mais brilhantes na região do infavermelho, com um brilho 500 000 maior que o do Sol. No entanto é quase invisível para os nossos olhos. Esta estrela foi identificada no céu nocturno em 1976 e estudada pela primeira vez em 1983, utilizando o satélite IRAS.
É possível que a “invisibilidade” da nebulosa Ovo Estrelado tenha sido responsável por estar esquecida durante tantos anos. Mas o novo estudo revela muita informação sobre esta nebulosa. A estrela propriamente dita tem um raio de 5 UA (unidade astronómica, 1 UA = distância do Sol à Terra), correspondente à distância média de Júpiter ao Sol. A camada mais exterior tem um diâmetro de 10 000 UA (ou seja 10 000 vezes a distância da Terra ao Sol) e poderia abarcar todos os planetas e planetas anões conhecidos do sistema solar.
As duas camadas quase esféricas que rodeiam a estrela da nébula Ovo Estrelado são constituídas por matéria (maioritariamente silicatos e gás) expelida pela estrela. O estudo conclui que nas últimas centenas de anos a estrela terá perdido perto de 4 vezes a massa do Sol.
A figura em baixo apresenta a constelação de Escorpião (Scorpius, no original em latim), onde está situada a nebulosa Ovo Estrelado. A posição da estrela é dada pelo círculo vermelho (Crédito: ESO/IAU/Sky & Telescope).
Hipergigantes amarelas como a nebulosa Ovo Estrelado são estrelas com pelo menos 10 vezes a massa do Sol, que estão a passar por uma fase de curta duração, de “apenas” alguns milhares de anos antes de se transformarem noutro tipo de estrela (em comparação pensa-se que o Sol existe há perto de 4,5 biliões de anos e se irá manter na sequência principal por mais 5 biliões de anos). Por isso as hipergigantes amarelas são muito raras. A “proximidade” da nebulos Ovo Estrelado permite um estudo mais cuidado, aumentando o conhecimento que temos actualmente sobre as hipergigantes amarelas.
Os resultados do estudo agora publicado apontam para que a nebulosa Ovo Estrelado expluda numa supenova num futuro próximo (astronomicamente falando). Nessa altura a estrela irá libertar todo o seu conteúdo, milhares de milhões de biliões de átomos de todos os elementos químicos, para o espaço mais próximo. E será (pelo menos durante algumas semanas) o astro mais brilhante do céu nocturno terrestre. Mas até lá… estará invisível, como na fotografia em baixo (a nebulosa encontra-se no centro!) (Crédito: ESO/Digitized Sky Survey 2).
Nota: O Observatório Europeu do Sul situa-se em Cerro Paranal no deserto Atacama, Chile, longe da poluição luminosa. A fotografia seguinte é uma fotografia panorámica, tirada a 21 de Dezembro de 2010, durante um eclipse lunar. A lua vermelha pode ser observada sobre um dos quatro telescópios que compoem o Very Large Telescope (que se pode traduzir como Telescópio Muito Grande), o sistema utilizado para estudar a nebulosa Ovo Estrelado.
Nesta fotografia é ainda possível ver o planeta Vénus à esquerda, ao fundo. Vénus está rodeado por uma luz brilhante, conhecida como luz zodiacal. A luz zodiacal é visível principalmente em regiões com pouca poluição luminosa, em noites de Lua Nova e resulta da reflexão/dispersão da luz solar pela poeira presente em todo o Sistema Solar. O nome zodiacal é uma consequência de esta luz se apresentar apenas na zona da elíptica (a zona do céu nocturno das constelações do zodíaco). O arco de luz é um dos braços da via láctea (galáxia onde se encontra o Sistema Solar), visível no céu.
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